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  • Foto do escritorAquários Sobrinho

Aumento da temperatura nos aquários - Parte 3: Efeito nos peixes

Depois de termos falado um pouco dos conceitos que envolvem o aumento de temperatura do aquário e mostrar algumas considerações sobre como os aquários esquentam, chegou a hora de falar dos efeitos da alta temperatura no organismo dos peixes. Além do estresse já habitual e conhecido no aquarismo, há muitas outros problemas diretos como anomalias no sangue, dano nas brânquias e destruição do DNA pelo estresse oxidativo


O primeiro efeito da alta temperatura nos peixes é desencadear os mecanismos de estresse. Esses mecanismos de estresse são as defesas do organismo contra o que está prejudicando o peixe de certa forma e são uma faca de dois gumes.


Ao mesmo tempo que os mecanismo de estresse dos peixes ajudam a sobreviver ao fenômeno que desencadeia o estresse, esses mecanismos acabam prejudicando o peixe reduzindo o seu crescimento e sua resistência a doenças, reduzindo suas capacidades reprodutoras, suas habilidades comportamentais e natatórias [5].


Já falamos de modo geral sobre o estresse nos peixes nesse nosso texto abaixo que você pode clicar e dar uma recapitulada no assunto.


O estresse causado pelo aumento da temperatura da água do aquário também causa a liberação de proteínas específicas no organismo do peixe chamadas “heat shock proteins” que chamaremos aqui de HSPs.


Essas HSPs são proteínas que atuam no organismo do peixe para minimizar os efeitos relacionados ao aumento de temperatura do organismo. Como os peixes são animais de sangue frio, sua temperatura corporal é dada pela temperatura do ambiente. Se a temperatura ambiente não estiver de acordo com o necessário para o bom funcionamento do organismo do peixe problemas vão surgir e podem levar o peixe à morte.


Entre as principais funções das HSPs podemos citar a manutenção homeostase celular, evitar a desnaturação de proteínas no organismo do peixe e ativar os mecanismos anti-oxidantes.


Homeostase celular é a capacidade da célula de manter a estabilidade do seu conteúdo interno.


Curiosidade: As HSPs em alguns casos ajudam no combate a outros problemas não ligados ao calor como mostra o artigo[10] . Nesse artigo os platys tiveram maior sobrevivência à infecção de Yersinia ruckeri quando receberam uma dose dessas proteínas do choque térmico.

Encontramos poucos trabalhos específicos sobre os efeitos da temperatura no organismo dos peixes. Os trabalhos relevantes que encontramos que podem dar boas informações aos aquaristas serão descritos abaixo.


No artigo [2] eles analisaram o efeito da temperatura nas tilápias-de-Moçambique, uma espécie bastante comum na aquicultura. Com a água na temperatura de 25°C o peixe apresentou brânquias com estruturas sadias. Com 30°C também nenhum problema apareceu, apenas foi noticiado a redução dos espaços para o sangue nas lamelas. Com 35°C as estruturas ainda estavam com boa aparência, com exceção de epitélio lamelar que ficou mais fino e retraído. Com 40°C os danos apareceram na forma de edemas epiteliais. Aos 45°C apresentou danos consideráveis.


A temperatura onde surgiram os problemas que causaram mortes dos peixes foram a partir de 38,2°C. Isso mostra como essa espécie suporta uma temperatura muito maior que a acará bandeira mostrada na parte 1 deste artigo.


No trabalho [5] também está claramente escrito que “as tilápias-de-Moçambique estão aptas para adaptar confortavelmente a essas temperaturas (até 35°C) com uma taxa de aclimatação de 1°C dia”.

Se um peixe resistente e robusto como a tilápia-de-moçambique precisa de uma taxa de aquecimento de 1°C por dia para se adaptarem adequadamente, imagina os peixes mais sensíveis usados em aquários?

É importante notar que se os peixes morreram com 38°C, os efeitos negativos começaram bem antes. A morte é o resultado extremo do aumento de temperatura e existem muitos problemas não letais que surgem quando o peixe fica estressado pelo calor.


O artigo [3] analisou a temperatura máxima dos platys aumentando a temperatura em 1°C a cada 8 minutos e analisando problemas motores como perca de equilíbrio e resposta a estímulos. A faixa de temperatura adequada variou consideravelmente em função da temperatura de aclimatação.


A imagem abaixo retirada de [3] mostra algumas espécies de peixes de clima temperado (linha contínua) e peixes de clima tropical (linha pontilhada com suas faixas limite de temperatura em função da temperatura de aclimatação (AT) com base no próprio artigo e em vários outros sobre o assunto. Tomando o platy (X. maculatus), como exemplo, teve uma faixa de temperatura limite inferior entre 10°C a 15°C (temperatura que os peixes sofrem dano do frio) e de temperatura limite superior de 30°C a 42°C (temperatura que os peixes sofrem dano do calor), ou seja, a temperatura ideal fica entre 15°C e 30°C, o que é bastante visível no aquarismo quando os aquaristas mantém esse espécie em cerca de 24 °C, bem perto da média entre os dois limites.

A maioria dos peixes tropicais na tabela acima, que estão marcado com as linhas pontilhadas, tem uma temperatura mínima de 15°C. 15°C é uma temperatura que chega em grande parte do Brasil durante o inverno.


No artigo [4] foram analisados o efeito no sangue dos kinguios comparando uma anemia forçada, uma redução da concentração de oxigênio dissolvido na água e o aumento da temperatura da água para 35°C por 1 ou 2 horas. Os piores resultados com as maiores anomalias no sangue dos kinguios foram o do aumento de temperatura que apresentou 16% de eritrócitos (células que possuem a hemoglobina que transportam oxigênio e gás carbônico) imaturos, 2% de eritrócitos em divisão e 5% de eritrócitos cariorréticos. Todas essas anomalias prejudicam demais a oxigenação dos tecidos.


A imagem abaixo retirada do artigo [4] mostra como essa água em temperatura elevada afetou os kinguios e o tempo que demorou para normalizar. Os 3 gráficos possuem os eixos das abscissas em dias.

Um ponto importante é que um simples aumento de temperatura por uma hora ou duas horas causou problemas que demoraram mais de 8 dias para serem normalizados. Agora imagina o que acontece com um kinguios ou outros peixes que passa horas diários em vários dias em água quente? Os efeitos dessa exposição crônica são terríveis!


Estresse oxidativo causado nos peixes pelo aumento da temperatura nos aquários


Outro efeito negativo do aumento de temperatura da água é o aumento do estresse oxidativo do peixe.


O estresse oxidativo é aquele causado por agentes oxidantes como o causado pelo peróxido de hidrogênio, conhecido também como água oxigenada, pelo ozônio, pelo oxigênio ativo e alguns outros. O estresse oxidativo é causado pelos famosos “radicais livres” comumente discutido na saúde humana.


O estresse oxidativo não é de todo desconhecido pelos aquaristas. É o estresse oxidativo que faz com que o ozônio ou o nosso Oximax matem as bactérias, microalgas e outros organismos presentes na água.


Para mais detalhes sobre o efeito dos oxidantes no aquário veja o nosso texto sobre ORP abaixo.


O efeito oxidativo nos peixes devido ao aumento de temperatura causa grandes danos celulares permanentes podendo levar ao desenvolvimento de câncer, dano ao DNA e até a morte do peixe! [6][8][17]

O artigo [8] buscou estudar a reação antioxidante em uma espécie de peixe cabeça de cobra contra o efeito oxidante causado pelo aumento da temperatura por apenas 3 horas. No texto usou de um choque térmico de 12 °C tirando os peixes de um aquário com água em 20°C e colando em um aquário com água em 32°C. Analisaram com 3 horas de exposição à água quente e também depois de 24 horas após retirarem da água a 32°e viram como o peixe cabeça de cobra alterou seus agentes antioxidantes para combater o estresse oxidativo. Nenhum peixe morreu nesse teste.


O peixe cabeça de cobra é um peixe com excelente capacidade de se adaptar a um choque térmico intenso!


Efeitos da aceleração do metabolismo dos peixes devido ao aumento da temperatura dos aquários


Além do estresse causado pelo aumento da temperatura da água do aquário, outra condição que pode se tornar um problema é o aumento da atividade metabólica do peixe.


Os principais efeitos do aumento da atividade metabólica de um peixe são o aumento do consumo de oxigênio e o aumento da sua produção de amônia.


Quando o organismo de um peixe precisa consumir mais oxigênio, ele gasta mais energia seja para buscar esse oxigênio na água, que é uma das causas do famoso “peixe boquejando”, seja para manter a circulação sanguínea acelerada, seja para suportar seus mecanismos anti-estresse e antioxidantes.


A tabela abaixo retirada do artigo [18] mostra a taxa de consumo de oxigênio por hora em função do peso de uma espécie de bagre. Percebam que a quantidade de oxigênio consumido dobra na média quando a temperatura aumenta de 20°C para 30°C.

Muito interessante notar na tabela acima que os peixes menores (ou seja, mais jovens) possuem uma taxa muito superior em função do peso, o que faz com que os filhotes tenham um metabolismo bem mais acelerado que os mais velhos devido a fatores como período de crescimento.


Por consequência do aumento do metabolismo também aumenta a produção de amônia devido ao aumento da alimentação e do consumo de reservas energéticas (inclusive da própria massa muscular). Esse efeito pode sobrecarregar o sistema de filtragem.


Esse aumento de amônia ainda tem mais um agravante que vamos mostrar mais adiante em outra parte do artigo.


Amenizando os problemas causado nos peixes pelo aumento de temperatura da água do aquário


Problemas sempre vão acontecer no aquarismo. Um equipamento vai falhar, a temperatura vai ficar absurdamente alta em um dia que você não estiver em casa, a bomba vai travar e circular menos água e o aquarista não vai ver, etc.


Para aumentar as chances de sobrevivência do seu peixe de aquário nessa situação a melhor coisa que você pode fazer é manter ele sempre numa alimentação rica e equilibrada.


Use sempre as melhores rações do mercado e sempre que possível forneça alimentos vivos (ou naturais) de boa qualidade e boa procedência. Os alimentos vivos são fontes ricas em gorduras, aminoácidos, vitaminas e carotenoides, todas substâncias com grande poder antioxidante.


Alimentos naturais escuros como os brócolis, espinafre e couve também são ricos em flavonoides, outra substância com grande poder antioxidante. Esses alimentos são bastante aceitos por peixes herbívoros.


Outra fonte muito boa de nutrientes que ajudam o peixe a lidar melhor com o aumento de temperatura é a espirulina. Essa cianobactéria tem uma grande quantidade de gorduras, vitaminas, proteínas e minerais que são muito bem absorvidos pelos peixes.


Para se ter uma ideia do efeito da espirulina na saúde do Pseudotropheus acei, um famoso ciclídeo africano criado em aquários, o trabalho [19] mostra como a ração contendo espirulina em proporções de 2,5%, 5% e 10% em relação à ração base aumentou o crescimento, a coloração e a produção e taxa de eclosão dos ovos. A imagem abaixa mostra os resultados encontrados após 12 semanas.

Já falamos um pouco sobre alimentação dos peixes de aquário no nosso texto sobre isso que pode ser lido no link abaixo:

Assim terminamos mais uma parte desse artigo sobre o aumento da temperatura nos peixes. Mostramos que além dos efeitos do estresse "comum", outros efeitos ruins surgem como dano direto nas brânquias, alterações nas células do sangue e aumento na produção de amônia.


Na próxima parte deste artigo vamos falar dos efeitos da temperatura nas propriedades da água do aquário e ver como isso agrava os problemas causados no metabolismo dos peixes


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