O aumento da temperatura também afeta também o metabolismo dos microrganismos que não vemos, das doenças e das algas dos nosso aquários e lagos aumentando os problemas que eles trazem. Esses problemas se somam com os outros efeitos negativos que falamos nas partes anteriores desse artigo.
Vamos começar falando das doenças que muitas vezes nos causam problemas sérios.
O primeiro exemplo não podia ser outro senão o famoso “íctio”.
A tabela abaixo retirada do trabalho [21] mostra o desenvolvimento do íctio em função da temperatura. Quanto maior a temperatura (até chegar em 30°C), menor o tempo que ele demora para sair do estágio de tomonte e ir para o estágio teronte e maior a quantidade de terontes gerados.
Um dos principais tratamentos que se conhece sobre o ictio é justamente aumentar a temperatura acima de 30°C para prejudicar o seu desenvolvimento.
Para mais detalhes sobre o íctio, já escrevemos um texto sobre eles que está disponível no link abaixo:
As parasitas crustáceos como o verme âncora (Lernea sp , Argulus sp,etc) também se beneficiam muito do aumento de temperatura acelerando bastante o seu crescimento. O trabalho [23] estudou o desenvolvimento do verme âncora em função da temperatura e a tabela abaixo mostra como o parasita reduziu seu tempo de nascimento consideravelmente com o aumento da temperatura.
As cianobactérias e microalgas também se beneficiam do aumento de temperatura. O trabalho [22] traz essa tabela com a taxa de crescimento de algumas espécies de algas e cianobactérias. Das 16 espécies da tabela, apenas uma tem maior taxa de crescimento numa temperatura menor ou igual a 25°C, todas as outras tem taxa de crescimento melhores em alguma temperatura maior que 25°C.
Esses são exemplos suficientes para mostrar o quão prejudicial pode ser o aumento de temperatura nos aquários mesmo sem contar os efeitos nos peixes e na qualidade da água.
O aumento da temperatura também aumenta a taxa de multiplicação das bactérias.
A imagem abaixo retirada de [24] mostra um gráfico com uma série de famílias de bactérias, algumas delas encontradas nos filtros dos aquários.
Quanto maior a quantidade de bactérias, maior o consumo de oxigênio e maior a incidência de doenças. O sistema imunológico do peixe já estressado terá problemas com excesso de patógenos na água.
Já falamos um pouco sobre a microbiologia do aquário e suas considerações no texto abaixo:
Não podemos esquecer dos efeitos cumulativos que a temperatura elevada causa nos peixes.
Métodos para refrigeração dos aquários
Esperamos que com tudo que falamos até aqui o leitor já tenha encontrado um ou outro motivo para ele se esforçar em manter a temperatura numa faixa confortável no seu aquário. Embora muitos locais no Brasil façam calor, muitos outros possuem temperaturas amenas o ano inteiro, o que facilita a vida do aquarista.
Muitas vezes os aquários estão em ambientes frescos e arejados o que contribui para manter a água numa temperatura que não é crítica aos habitantes do aquário.
Nos locais onde é preciso reduzir a temperatura dos aquários existem 3 principais equipamentos utilizados: as ventoinhas, os chillers e as pastilhas Peltier.
Ventoinhas: É a opção mais barata, mas é a que menos retira calor do ambiente e, muitas vezes, faz muito barulho. É de fácil acesso e de fácil instalação embora consigam manter, no máximo num cenário bom, 4°C de diferença do ambiente para o aquário.
Chillers: É a opção mais consagrada no aquarismo marinho para refrigeração dos aquários. Utiliza o mesmo princípio do gás pressurizado usado nas geladeiras. É a opção mais segura para refrigeração em aquários. Em aquários de água doce não é necessário serpentina de titânio.
Pastilhas Peltier: É a opção mais moderna e também a mais ineficiente (tendo uma faixa. Pode dar muito certo para aquários nanos, com 30 litros ou menos, mas para aquários maiores tem uma série de problemas.
Não vamos nos alongar sobre essas alternativas porque já escrevemos um texto explorando uma série de detalhes e fatores sobre a refrigeração dos aquários que pode ser lido no link abaixo.
Considerações finais
Esse texto teve a intenção de trazer uma ampliação na noção dos problemas e perigos que o aumento de temperatura pode causar nos aquários. Apresentamos uma série de fatores que afetam os peixes, as propriedades da água e até mesmo doenças e algas.
É muito importante entender que muitos efeitos do aumento de temperatura da água do aquário podem durar muito tempo depois que a temperatura diminui ou pode até mesmos ser permanente.
A temperatura do aquário pode normalizar depois de um aumento, mas os efeitos causados poderão durar por dias ou semanas!
Exposição crônica à alta temperatura é um dos motivos das mortes misteriosas nos aquários. Muitos peixes acabam criando doenças ou deficiências em função da temperatura e podem morrer sem causa aparente no futuro, mesmo meses depois do período de aquecimento.
O que é importante nesse texto é entender que os peixes possuem uma faixa de temperatura que devem ser mantidos para que ele possa se desenvolver plenamente. Essa faixa de temperatura varia da espécie, de como os peixes são criados desde filhotes, da genética, etc
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Alguns peixes, até da mesma espécie, até da mesma ninhada, podem ter uma pequena diferença no limite de temperatura que aguentam. É um mecanismo de sobrevivência das espécies. Por isso desconfie do famoso “eu fiz e deu certo”. Existe uma diferença que precisa ser estudada e respeitada.
Também é um texto para alertar o aquarista iniciante para considerar a temperatura na hora da escolha dos seus peixes, principalmente em questão de compatibilidade.
Durante todos esses anos de aquarismo presenciamos uma pequena, mas relevante, parcela de aquaristas que tiveram com problema de alta temperatura nos aquários. Mesmo aqui no estado do Espírito Santo tendo muitos dias de temperatura acima dos 30°C no verão, todo ano ao menos um dia chega a 40°C no estado, porém os aquários acabam tendo um efeito menor por estarem dentro de casa em ambiente fresco ou mesmo com alguma forma de refrigeração proporcionada pelo aquarista.
A alta temperatura é um problema maior no aquarismo marinho, mas não pelos peixes e sim pelos invertebrados que são muito mais sensíveis ao aumento de temperatura. Corais, zooplâncton, anêmonas e crustáceos maiores morrem com muita facilidade quando a temperatura começa a passar dos 28°C.
Uma coisa muito importante, que sempre falamos quando queremos que o peixe tenha uma vida melhor, é na qualidade da alimentação. Sempre dê as melhores rações possíveis porque uma boa alimentação tem um efeito muito grande na resistência do peixe a todo tipo de estresse, até mesmo provocado pela temperatura elevada da água.
Se você é do estado do Espírito Santo e tem vontade de ter seu aquário ou lago ornamental, entre em contato conosco que escutaremos as suas vontades e ideias e faremos o orçamento sem compromisso. Construímos desde a base do móvel, montamos o aquário e o sistema de filtragem e ornamentação. Entregaremos seu aquário montado e funcionando perfeitamente na sua casa, seja ele um aquário de água doce ou um aquário marinho.
Trabalhamos com aquário de no mínimo 200 litros.
Se você é de outro estado brasileiros, nós enviamos os equipamentos que fabricamos para qualquer lugar do Brasil.
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Referências Bibliográficas
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Leitura complementar
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Em breve ainda traremos mais informações sobre o assunto.