Só existem dois tipos de aquários no aquarismo: os que funcionam e os que não funcionam. Para um aquário que não funciona tudo é necessário e tudo é desnecessário, dependendo de quem está comprando e dependendo de quem está vendendo ou anunciando. Para um aquário que funciona, nem tudo é necessário, mas algumas coisas são.
Mas o que é necessário e o que é desnecessário no aquarismo?
Para responder essa pergunta é preciso entender como o aquário funciona e entender um pouco nas relações sociais entre os aquaristas.
O universo visível e o universo invisível
Um aquário é composto de dois universos diferentes misturados: o universo visível e o universo invisível.
O universo visível dos aquários compreende os peixes, plantas, ornamentação, algas visíveis, o substrato, a sujeira, equipamentos e tudo mais que podemos compreender com os olhos. Os aquaristas conseguem ver nitidamente essas interações, conseguem ver o peixe se alimentando, conseguem ver as plantas crescendo, conseguem ver a sujeira se acumulando.
O universo invisível é a parte mais importante do funcionamento do aquário, mas é a de mais difícil compreensão. O universo invisível é composto pelas parâmetros físicos e químicos da água, pelas bactérias do filtro, pelo metabolismo dos seres vivos do aquários, pelas algas e doenças que surgem “do nada” no aquário, pelo comportamento dos peixes, etc.
A maioria dos aquaristas só consegue entender o universo visível e compreende muito pouco o invisível. O universo invisível é abstrato, composto de fórmulas, teorias e tabelas químicas, só pode ser visto com medições com equipamentos ou produtos específicos e ainda muitos dos seus mecanismos não foram completamente decifrados. O universo invisível é que regula o mundo visível e este corresponde.
Sem as bactérias do filtro biológico (universo invisível), o aquário acumula amônia (universo invisível) e os peixes morrem (universo visível).
Sem o dióxido de carbono dissolvido (universo invisível), as plantas não fazem fotossíntese (universo invisível) e não conseguem crescer (universo visível).
Com um excesso de peixes no aquário (universo visível), muitos peixes ficam estressados (universo invisível) e morrem (universo visível).
O povoamento desses dois universos são muito parecidos em questão de necessidades básicas, mesmo sendo organismos vivos de natureza muito diferente.
Os povoamentos do universo visível e do universo invisível precisam de alimento, de respirar, da limpeza dos seus rejeitos metabólicos, de proteção contra os predadores e concorrentes, de ambientação climática adequada.
Para ver o que é realmente necessário basta separar cada habitante do aquário, definir o que ele precisa para viver com qualidade e somar todas as necessidades de maneira a encontrar o equilíbrio.
Os peixes do aquário precisam de alimentação adequada para sua espécie, precisam de temperatura adequada, precisam de oxigênio, precisam de espaço, precisam de sais minerais da água, precisam da ausência de contaminantes, precisam de companheiros caso sejam peixes de cardume, precisam ficar isolados caso sejam territorialistas, precisam de água nos parâmetros químicos adequados.
As plantas e corais precisam de locais para se fixar, precisam de luz, precisam de dióxido de carbono estável e regular durante o dia e de oxigênio durante a noite, precisam de proteção contra predadores, precisam de minerais na água ou no substrato, precisam de temperatura adequada, precisam da água nos parâmetros químicos adequados.
As bactérias nitrificantes possuem as mesmas necessidades dos outros animais.
Os equipamentos precisam funcionar nos requisitos que foram fabricados como a tensão elétrica adequada e também precisam de manutenção regular.
Tudo o que não for preciso para atender essas necessidades é desnecessário.
O aquário precisa de um filtro capaz de remover os dejetos dos peixes e são esses dejetos que servem de alimento para as bactérias do filtro. O filtro precisa de limpeza regular para manter as bactérias nitrificantes em constante renovação e remover o excesso de sujeira.
A boa circulação fornece oxigênio para peixes, plantas, corais e bactérias nitrificantes, mas variações na forma contínua, efeito de onda, circulação alternada é supérfluo.
Uma alimentação com rações de alta qualidade e até alimentos vivos proporcionam todos os nutrientes que os animais precisam.
Uma iluminação nos parâmetros de temperatura de cor e potência adequados e fotoperíodo correto são necessário para a fotossíntese, mas efeitos de amanhecer e anoitecer não.
Esses são alguns exemplos de como avaliar tudo o que é necessário e desnecessário no aquário. Alguns animais podem ter necessidades diferentes, alguns equipamentos também. O aquarista tem que avaliar isso tudo. No início parece bastante coisa, mas com o tempo passa a ser instintivo e tão simples como qualquer outra coisa cotidiana.
Assim, não se pode negligenciar o mundo invisível e proporcionar apenas as coisas do mundo visível.
"Então, podemos definir como necessário tudo aquilo que reproduz as necessidades do universo visível e invisível e o que é desnecessário é tudo aquilo que é meramente estético."
Além de tudo isso, cada coisa necessária é preciso ser analisada sobre a Lei de Murphy.
Pra quem não conhece a lei de Murphy, ela diz algo como se alguma coisa for dar errado, vai dar errado. Bombas emperram, lâmpadas queimam, alimentadores automáticos alimentam sem parar, algas do ATS morrem, geradores de CO2 caseiro explodem, a energia acaba, a borracha de vedação resseca, etc. Tudo precisa ser avaliado principalmente na parte do que vai acontecer quando der errado, porque uma hora vai dar, só não se sabe quando.
Assim, além das coisas necessárias, é preciso pensar em medidas de segurança e de prevenção para que o mínimo de coisas saiam errado e quando saiam que os efeitos negativos sejam minimizados.
A questão da utilidade
O necessário e o desnecessário do aquarismo vai muito com a questão da utilidade também.
Em muitos aquários o uso de removedores de fosfato é desnecessário, seja por ser um aquário plantado, seja pela filtragem biológica atender a demanda do aquário. Porém, em muitos aquários, principalmente marinho, removedores de fosfato são necessários.
O aquarista deve avaliar principalmente por meio dos testes se algo é necessário ou não. Não é porque muita gente tem que você obrigatoriamente vai precisar também.
Muitas coisas possuem uma necessidade pontual e não contínua.
O principal exemplo que podemos dar de uma necessidade pontual é o uso de medicamento no aquário. Você só precisa fazer o uso de medicamentos na presença de doença.
Ninguém fica usando remédio em peixes saudáveis porque é completamente desnecessários.
Muitos fazem uso de probióticos e métodos profiláticos, para ajudar na prevenção de doenças. É benéfico, mas ainda assim não é necessário caso as necessidades do aquário sejam mantidas idealmente.
Temos clientes de aquários de água doce que só conseguiram acertar seus aquários com o uso de deionizadores devido à qualidade da água disponível. A maioria dos aquaristas de água doce não precisa de um deionizador, mas alguns realmente precisam.
O que é útil e necessário para um aquarista, pode ser desnecessário para outro. O aquarista deve buscar ver o que é útil e se é necessário o uso contínuo ou não.
Ter carvão ativado e zeolita guardado em casa é extremamente útil em caso de uma emergência, embora tenha a impressão que seja desnecessário. Ele é desnecessário até o momento em que acontecer um problema e precisar ser utilizado.
Medidas contingenciais contra problemas nunca são desnecessárias ou supérfluas, são garantias em caso de emergência.
A questão da comodidade
Um ponto um tanto delicado sobre esse assunto é a comodidade. Vivemos em um tempo onde as pessoas estão sempre com pressa, são muitas responsabilidades, muitos lugares a estar ao mesmo tempo e acaba que dedicar tempo para resolver problemas do aquário se torna mais penoso do que relaxante.
A comodidade não é algo estritamente necessário, é um conforto, algo que ajuda na satisfação com o aquário.
Não adianta o aquarista montar um aquário, se estressar com manutenção além do que imaginava que iria ter e acabar desleixando do aquário causando sofrimento aos animais.
A comodidade do aquarista nas manutenções é de extrema importância para a felicidade do própria aquarista e bem estar dos habitantes do aquário.
A questão comercial
Agora que demos uma leve explanada sobre o necessário e desnecessário, utilidade e comodidade, vamos acrescentar a esses conceitos uma parte importante que é o mercado do aquarismo e como ele influencia nessas questões.
Para atender o necessário a um aquário existem diversas opções válidas, como muitas marcas e modelos.
Você pode usar um filtro canister, usar um dry wet, usar um filtro eletrolítico (existe um filtro semelhante ao nosso Oximax com eletrodo de paládio que transforma quimicamente amônia em nitrogênio gasoso), pode usar resinas que sequestram amônia e nitrito da água, pode usar zeolita, pode usar um filtro de plantas, um sump cheio de mídias, enfim, tem uma vasta possibilidade de escolha para atender uma única necessidade.
Todos os métodos citados acima, se devidamente dimensionados, vão atender tranquilamente a necessidade de filtragem do aquário.
Um filtro de plantas é relativamente fácil de fazer, barato e tem muitos bons resultados, não melhores que o uso de bactérias nitrificantes, mas ainda assim bons resultados.
O problema do filtro de planta é justamente que é barato, mesmo ocupando um maior espaço e os aquaristas não terem muita noção do dimensionamento.
As pessoas geralmente não confiam no que é barato, principalmente no aquarismo. Ás vezes isso é tem fundamento, às vezes não. E a confiança sobre produtos e equipamentos é decidida nos dois principais grupos envolvendo o aquarismo: os grupos de aquaristas e as grandes empresas do ramo.
Os grupos de aquaristas existem muito antes da internet e das redes sociais.Aquaristas do mesmo local sempre se reuniram para trocar experiência, muitos conheciam outros aquaristas pelas revistas da época e se correspondiam por carta. Muitas vezes o centro de encontro era uma ou talvez a única loja do ramo que existia na cidade.
Aqui no Espírito Santo, a pioneira no aquarismo foi a Sitiolândia da senhora Tereza que funcionava na reta do aeroporto. Ela que trouxe os primeiros equipamentos de São Paulo no final dos anos 80, além de revistas, livros e novidades. Os aquaristas capixabas, inclusive nós, sempre íamos lá para nos encontrar e trocar experiências.
Esse rede de informação, hoje ampliada com a internet, sempre foi uma grande fonte de disseminação de conhecimento empírico, falsas verdades, opiniões de quem usou equipamentos e produtos, opinião de quem é só curioso... enfim, todo um conjunto de informações úteis, inúteis e até prejudiciais.
Mesmo que o grupo dos aquaristas sempre tenha sido forte, todos acabam sendo direcionados o modo de pensar pelas grandes empresas do ramo, sejam fabricantes ou revistas e hoje as personalidades. As grandes empresas e personalidades sempre acabam transpirando confiança.
As grandes empresas e personalidades do ramo ditam a tendência do momento, mesmo que sejam reinvenções constante da roda. São as grandes empresas que escolhem quando divulgar tecnologias, quando aposentar produtos e os relançarem como inéditos um tempo depois, quando um produto faz bem ou faz mal, qual o peixe da moda, qual o biótopo do momento, etc.
São as grandes empresas do ramo que moldam o modo de pensar dos aquaristas e assim seus valores de certo e errado, do que funciona e não funciona.
Quando o acesso à informação era difícil, eram as grandes revistas que ensinavam como um aquário funcionava, o que os peixes precisavam, qual a qualidade de água desnecessária.
Temos edições aqui de Exotic Tropic Fishes que vão dos anos 60 aos anos 80 com material de qualidade que ainda não vimos até hoje na internet. Temos fichas de peixes desconhecidos pela maioria, informações sobre cuidados e necessidades que não encontramos em outro lugar. Era um tempo onde se investiam bastante em pesquisas detalhadas sobre esses peixes, mas nem sempre é assim.
Um exemplo da força da indústria são as mídias porosas. Mídias porosas são conhecidas de antes do anos 70, mas só tomou conta do mercado do aquarismo (e somente do aquarismo como boa midia filtrante) depois dos anos 2000 ( A Sera comprou a patente da Siporax em 2003) e só conseguiu se fundamentar porque os comerciantes do ramo trabalharam em cima dessa ideia.
O mercado absorveu muito bem isso, é um produto caro, assim as empresas possuem uma boa margem de lucro, passa a imagem de confiante, mas os resultados não são muito diferentes do que as mídias anteriores.
Afinal, quem testou com devido controle e repetição as mídias novas e as antigas?
Nós testamos.
Não somente nós, mas muitos laboratórios de universidades mundo a fora. Tem um teste sensacional que mostra que Siporax foi pior que cano de PVC cortado.
As mídias, por mais porosas que sejam, não possuem diferença significativa na filtragem que justifique a diferença do seu preço para as mídias comuns, mas como então ela caiu no gosto popular? Pressão dos comerciantes.
As mídias porosas adquiriram o título de extremamente necessárias para o bom funcionamento do aquário devido à constante repetição de que é a melhor coisa do mundo, “dezenas de vezes melhor que as outras mídias”, embora na prática os resultados não sejam muito diferentes da argila expandida, de espumas, dos velhos bioballs e outras mídias plásticas.
"Uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade" - Joseph Goebbels"
Mídias semelhantes à K1 e outras mídias plásticas são mídias que são usadas na indústria desde os anos 70 seja para tratamento de lagos, aquários, pisciculturas, tratamentos de resíduos, mas só estão ganhando espaço comercial no aquarismo nos últimos anos. Elas possuem resultados similares às mídias porosas, embora não tenha nenhuma características das mídias porosas.
Não vamos nos aprofundar nesse tema de mídias porosas aqui, foi só um exemplo e também já escrevemos um texto sobre o mito da superfície específica onde explicamos todos os detalhes que fazem com que a mídia porosa não tenha diferença pra uma mídia não porosa, a não ser no preço salgado.
É assim que o mercado influencia a noção de necessário ou de não necessário, com informações às vezes corretas, às vezes incorretas, na maioria das vezes meias verdades falaciosas e, principalmente, naquilo que alimente o lucro do comércio envolvido.
Não acredite quando dizem que coisas usadas em outras áreas como aquicultura e tratamento de resíduos não servem para aquarismo, é uma falácia imensa! O que importa é a tecnologia usada.
Se a tecnologia usada for adaptável atender as necessidades do aquário não há problema nenhum! Amônia é amônia, seja ela vinda do metabolismo dos peixes, do metabolismo do camarão, da ração que sobrou no aquário, da planta do aquário que entrou em decomposição, do esgoto urbano. São as mesmas bactérias nitrificantes, é o mesmo processo de nitrificação, são as mesmas necessidades de oxigênio e carbonatos.
É muito mais fácil filtrar a água de um aquário do que a água de uma piscicultura, de uma indústria frigorífica e principalmente do esgoto urbano. Se uma tecnologia dá conta dessa carga pesada, do aquário não vai ter problemas.
Abaixo um aquário de um de nossos clientes utilizando argila expandida e tela plástica com conhecimento de aquicultura e tratamentos de esgoto. Nada de mídia cara, nada de mídia específica, apenas conhecimento aplicado.
Muitas empresas e personalidades dizem isso para vender algo mais caro que algo simples atenderia e até mesmo vender coisas sem utilidade. Muitos pensam apenas no dinheiro imediato e na evolução do aquarismo ou no lucro a longo prazo.
Se os aquaristas tomarem confiança de que argila expandida e outras mídias simples funcionam, como funciona nos nossos filtros, nos filtros e no resto do mundo para processo de filtragem, e passarem a usar no lugar das mídias porosas, imagina o quanto os lojistas e indústrias do ramo deixariam de lucrar?
Abaixo fotos do nosso antigo filtro da antiga bateria de caspas tocado apenas com argila expandida.
A maioria das coisas do Polishop prometem milagres, arrumam depoimentos de gente feliz e satisfeita, mas sabemos muito bem que são coisas desnecessárias, supérfluas ou mesmo com opções muito mais baratas disponíveis.
O aquarismo também tem seus momentos “Polishop” com propagandas bonitas e gente sorrindo, principalmente o vendedor. "Seus problemas acabaram!", alguém lembra desse bordão?
Hoje já estamos escutando com certa frequência que as mídias biológicas precisam ser trocadas. Resultado diferente não vai dar, mas movimenta o comércio.
Outro exemplo que pode ser dado são as luminárias leds com ou sem controle de intensidade e até com efeitos especiais.
As primeiras luminárias led eram bastante simples, ligavam e desligavam somente. Hoje, as luminárias leds tem efeito de amanhecer, anoitecer, até mesmo tempestade; são bastante legais mesmo, mas não tem diferença das simples que apenas ligam e desligam, embora sejam muito mais caras.
Não trocamos nossas lâmpadas HQI que ligam e desligam somente e que foram compradas em loja de material elétrico por menos de R$100,00 por nada nesse mundo! Olha o resultado aí:
A questão comercial na maioria das vezes vai tentar criar a ideia de que o mais caro é necessário, que não há outra alternativa viável, vai fazer com que pareça ser fundamental e vai pegar os aquaristas que desconhecem do assunto.
Em todos os setores sempre vão existir comerciantes que tentarão vender mais do que a pessoa precisa para garantir seu ganha pão ou mesmo um lucro mais alto ou mesmo personalidades que tentarão vender coisas para receber benefícios e produtos. Você precisa de um removedor disso, um removedor daquilo, uma nova mídia pra isso, uma nova mídia pra aquilo, precisa trocar isso, trocar aquilo...
O questão do valor comercial também pega outro ponto importante: a vaidade e orgulho das pessoas.
É da natureza humana querer se diferenciar dos outros, ter algo melhor que os outros.
No aquarismo o mais caro é o mais valorizado e causa mais inveja porque apenas uma pequena parcela dos aquaristas podem ter, criando assim uma diferenciação entre os aquaristas.
Um exemplo clássico disso no aquarismo marinho é o Kalkwasser. Kalkwasser é simplesmente hidróxido de cálcio que pode ser comprado em qualquer loja de produtos químicos com uma alta qualidade a preços módicos, porém muitos aquaristas preferem comprar o mesmo hidróxido de cálcio importado por um preço muitas vezes maior, por não confiar no preço baixo do hidróxido de cálcio local ou por vaidade pra ter algo que poucos tem.
O aquarismo é cheio de suas vaidades, às vezes boas, às vezes ruins, mas cheio de vaidades.
Na questão do orgulho, a pior coisa que enfrentamos, e enfrentamos com certa regularidade, é o sentimento de ter sido enganado, o orgulho ferido.
Recebemos muitos clientes que montaram seus aquários a um alto custo e tiveram problemas. Conversa vai, conversa vem, vamos vendo o que fizeram o aquarista comprar.
Aí tem removedor de fosfato, removedor de silicato, resina especial, chiller pra aquário de água doce (sim, temos um cliente que fizeram ele comprar um chiller pra um aquário de água doce de peixes tropicais), mídia disso, mídia daquilo, filtro UV, substrato fértil, fertilizante líquido, clarificador de água (Por qual motivo alguém precisa de um clarificador de água?), acelerador biológico...enfim, muitas coisas desnecessárias, supérfluas e cumulativas.
Aí vem a parte que falamos e mostramos que não precisava de quase nada disso. Pronto, a pessoa não acredita.
Quando você fala que a pessoa gastou muito mais do que precisava e que, muitas vezes, bastaria apenas de um filtro biológico do tamanho certo com mídias simples a pessoa fica com o orgulho ferido e é uma das piores sensações admitir isso e por isso prefere não acreditar.
E assim a banda das coisas desnecessárias vai crescendo, mesmo a pessoa sabendo que não precisava, mas não consegue admitir pra não admitir que foi enganada.
A questão da insatisfação
Talvez o maior motor que induz à compra de coisas desnecessárias é a insatisfação do aquarista. Muitos aquaristas são inquietos e gostam de ficar mexendo, gostam de ficar trocando de equipamento, de mídias dos filtros, de luminárias e até de peixes.
Essa troca constante, mesmo que injustificada em questão de utilidade ou resultado, acaba por passar para os outros aquaristas a ideia de que é necessário uma troca regular de algo.
Uma coisa é o aquário está com problemas como amônia ou acumulando sujeira, outra o aquário é ter todas as necessidades supridas e ainda assim o aquarista achar que precisa mexer. Mexer nas coisas que estão dando certo causam mais problemas do que melhoram os resultados.
O minimalismo possível do aquarismo
Entre tantas propagandas de produtos diversos com muitas promessas e poucos resultados e o infinito de informações muitas vezes erradas, será que é possível ter o mínimo necessário e ter um aquário bonito e saudável?
Claro que sim!!
O principal passo para se entender o mínimo necessário é o aquarista ter o conhecimento técnico do universo visível e do universo invisível do seu aquário. Para isso basta buscar em fontes confiáveis e embasadas em processos físicos, químicos e biológicas já usados, testados e com sua eficiência medida e repetida no mundo todo.
O conhecimento é a maior arma contra as coisas desnecessárias do aquarismo.
Sabendo como funciona o processo da nitrificação, por exemplo, o principal processo de remoção de amônia e nitrito dos aquários, você vai ver que não precisa de nada caro ou de outro mundo para uma excelente filtragem. Não precisa da nova mídia do mercado, não precisa repor bactérias com regularidade, etc. As bactérias nitrificantes crescem em areia, argila, vidro, plástico, madeira, matéria orgânica em decomposição, elas só precisam dos seus nutrientes fundamentais.
A filtragem biológica dos aquários só precisa de mídias simples e baratas na quantidade correta e bem utilizadas e um excelente fluxo de água, nada mais que isso.
Entendendo o que os peixes precisam na sua nutrição vai ver que uma única ração de boa marca e um complementação com comida natural é mais que suficiente para garantir todos os nutrientes que os peixes precisam. Uma ração de boa marca não é cara e dura bastante tempo. Não precisa de uma coleção de ração que muitas vezes estraga no pote.
Entendendo como se relacionam os parâmetros químicos da água o aquarista consegue adicionar ou reduzir de acordo com o que é necessário para manter em harmônia o universo visível e invisível do aquário. Às vezes pode ser necessário suplementação mineral com produtos específicos, às vezes o simples uso de um pouco de aragonita supre toda essa necessidade.
Um aquário de água doce se não for plantado precisa de um filtro biológico com vazão adequada e pronto. Muitas vezes carvão ativado não é necessário. Esse é o básico que vai atender a maioria dos aquários de água doce.
Um aquário marinho, se tiver quantidade adequada de rochas, vai funcionar bem somente com um skimmer corretamente dimensionado por muito tempo. Não precisa de mídias biológicas, de refúgio, de reator disso e daquilo a princípio. No futuro, com o aumento dos animais do aquário pode ser que não seja suficiente, mas no começo atende plenamente.
Ninguém precisa trocar mídia biológica, a não ser que for uma mídia biodegradável como os biopellets.
Ninguém precisa ficar acrescentando microrganismos no aquário, raramente isso funciona por uma série de motivos que já falamos no nosso texto sobre aceleradores de biologia que pode ser lido clicando aqui.
O aquarismo pode ser simples e com poucos gastos se o aquarista tiver curiosidade, vontade de aprender e acesso à informação adequada.
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