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  • Foto do escritorAquários Sobrinho

Algas Pink ou Algas Calcárias

Vulgarmente conhecidas no aquarismo como algas pink, as algas calcárias, algas coralíneas ou algas coralináceas, são um conjunto de algas que compreendem centenas de espécies encontrados em todos os oceanos em profundidades que podem chegar 268 metros. Além de ajudar na prevenção de algas, diatomáceas e cianobactérias, as algas calcárias são fundamentais para o desenvolvimento de uma série de animais.

alga calcária pink coralínia aquário marinho

Água e luz e crescimento!


Com cores que vão do rosa claro ao vinho (daqui o nome popular de algas pink), as algas calcárias fazem a fotossíntese e depositam carbonato de cálcio principalmente na forma de calcita, mas podem ser encontradas também na forma de dolomita e aragonita, sendo a calcita a forma mais resistente em relação à corrosão química. Dessa deposição de carbonatos que vem seu nome de alga calcária ou coralínea.


As algas calcárias possuem um crescimento muito mais lento que as outras algas.

Alga pink com morfologia incomum que cresceu em nosso aquário

As algas calcárias são adaptadas para baixas e altas luminosidade e tem preferência por grandes correntezas de água. A correnteza de água é muito importante para aumentar a oferta de nutrientes à sua disposição.


As algas pink crescem mais rápido na natureza do que nos aquários, provavelmente devido à luminosidade e circulação de água mais intensa.


Pouco se sabe sobre a reprodução das algas calcárias, mas sabe-se que ele pode se reproduzir por esporos e por fragmentação.


As algas pinks crescem de várias formas, desde finas camadas parecendo líquens, até em formatos de galhos e rochas. A imagem abaixo[15] mostra as formas e características morfológicas que as algas calcárias podem apresentar.


As algas calcárias e os recifes de corais


As algas calcárias são fundamentais para o desenvolvimento de todos os recifes de corais do mundo. São elas que formam inicialmente a parte sólida onde os corais vão se aderindo, além de servirem como cola unindo esqueletos de corais mortos, conchas, pedras e outros agregados e ampliando ainda mais os recifes existentes.


Uma das maiores vantagens das algas coralíneas é o combate químico contra outras algas e alguns microrganismos que prejudicam os corais, sem afetar peixes, invertebrados ou qualquer outra coisa benéfica ao aquário. [1][7][8][9][10]



A maioria das algas calcárias possuem a capacidade de descascar as camadas superiores do epitélio se livrando de algas, bactérias e outros organismos indesejados. A imagem abaixo [8]mostra a estrutura das algas pink e seus epitélios "destacáveis" . [1] [3][8][9]


A imagem abaixo é uma fotografia desse epitélio das algas calcárias. É como se fosse uma troca de pelo com o intuito de se liberar dos parasitas.

Um fato muito interessante sobre as algas calcárias é que elas promovem ametamorfose e o crescimento de larvas de corais e de biofilme benéfico que serve de alimento para o zooplâncton e corais. O biofilme que se desenvolve é especifico de cada espécie de alga já que as bactérias dependem de certos nutrientes fornecidos pela alga calcária. [2][3][12]


Os recifes de corais e as estruturas de algas calcárias fornecem proteção para animais herbívoros diversos, como peixe e invertebrados, que ajudam a manter os corais e algas coralíneas livres de algas.


Nutrientes e contaminantes


Quando se fala em algas, a primeira coisa que se pensa é em excesso de nutrientes, mas isso não vale para as algas calcárias.


As algas pink gostam de uma água pobre em todos os nutrientes que as outras algas gostam em grande quantidade. [4]


Para se ter uma ideia, as algas pinks precisam de uma quantidade de ferro até 50 vezes menor que outros tipos de algas, o que é uma grande vantagem competitiva. Dosar grandes quantidade de ferro no aquário podem induzir o crescimento de algas indesejadas, então tome cuidado com isso. [15]


O maior contaminante quando se fala das algas calcárias é o fosfato. O fosfato afeta as algas pinks mais que amônia e o nitrato. [5]


O gráfico abaixo mostra a influência do fosfato no crescimento das algas coralíneas. Vejam que a concentração está em micromolar e que cada unidade de micromolar de fosfato significa apenas 0,0095ppm de fosfato!


O microcosmos das algas pink


Quem olha as algas pinks por foto, no aquário ou mesmo mergulhando não imagina o fantástico universo que se esconde o use camufla nessas algas.

Nosso aquário marinho com rochas e laterais completamente forrados de algas pink.

As algas calcárias promovem e ajudam no desenvolvimento de invertebrados herbívoros, geralmente foraminíferos, gastrópodes e ostracodes, quase sempre menores que 1mm, que se alimentam de diatomáceas (algas marrons), esporos de algas, pequenas algas e outros microrganismos. Esses microrganismos “amigos” das algas pink se metamorfoseiam em tons da própria alga e se camuflam, daí a dificuldade, acrescida do seu minúsculo tamanho, de vermos todo esse fantástico mundo.[6][9]


A imagem abaixo mostra exatamente essa relação interessantíssima. 

A tabela abaixo mostra algumas espécies de animais encontradas nas algas pinks que muitas vezes não conseguimos enxergar.

A imagem abaixo mostra o tamanho de alguns animais desses, são realmente minúsculos, mas ajudam a manter as algas calcárias (e os aquários) livres de algas, cianobactérias, diatomáceas e outros microrganismos. Perceba que nenhum deles possui sequer 1mm de comprimento total.



As polyplacophoras são animais que vivem camuflados nas algas pinks que se alimentam de diversos microrganismos, inclusive cianobactérias. [11]

Outro exemplo de mutualismo envolvendo as algas calcárias são com caranguejos herbívoros. A alga oferece abrigo ao caranguejo e ele elimina as outras algas que porventura surjam na alga calcárias. [14]


O vídeo abaixo mostra um caranguejo algueiro no nosso aquário comendo algas nas algas pinks antes que elas cresçam.  


Além da água e do sal


Além da sua relação com os recifes de corais e alguns animais, as algas pinks também podem dizer muita coisa sobre assuntos não relacionados diretamente a elas.


Alguns estudos com as algas calcárias foram e são feitos para entender algumas características físico/químicas dos oceanos. Descobriu-se nesses estudos que há uma relação do cálcio e o bário da composição da alga calcária com características da superfície do oceano. A relação entre o lítio ou estrôncio e o cálcio tem relação com a temperatura da água. [13]


As algas calcárias também fornecem informações sobre outras variações ambientais. Variação nas relações de cálcio e magnésio tem relação negativa com o aumento do número de copépodes e por isso apontam um aumento significativo deles no ano de 2040. As algas calcárias também estão sendo estudadas para entender a sua relação com os salmões no Mar de Bering devido ao seu registro física nas variações de temperatura. [13]


Algas calcárias nos aquários


Já enumeramos várias características das algas calcárias e são essas características que fazem delas os maiores amigos dos aquários de água salgada que você pode ter.


Existem pessoas que gostam da cor das algas pinks, tem gente que não gosta. Tem gente que deixa alga pink crescer até a flor d’água e tem gente que quer, mas não consegue fazer crescer ou aparecer alga calcária de jeito nenhum.


Além de ajudarem a combater algas e outros organismos indesejados nos aquários, as algas pinks também são bioindicadores. Se há alguma coisa de errado com o aquário, seja a iluminação não estar sendo suficiente ou já vencida, seja algum parâmetro estar desequilibrado, as algas calcárias vão apresentar sintomas, seja uma descoloração ou até mesmo o surgimento de focos de algas, cianobactérias, dinoflagelados ou mesmo elas descascarem.


Para quem não gosta de alga pink e não quer que elas apareçam no aquário, infelizmente perde a ajuda de um grande amigo que combate o surgimento de algas, cianobactérias, diatomáceas e ajuda no crescimento de uma fauna muito diversificada. Por uma maior saúde do aquário, seja de coral ou não,recomendamos ao menos que as rochas sejam preenchidas pelas algas pinks.


Tem gente que pensa que as algas pinks em excesso consomem muito nutriente da água do aquário, mas não é bem assim. Como as algas calcárias possuem um crescimento muito lento, elas não são consumidoras em excesso de cálcio, magnésio, carbonato e outros elementos traços. Então não se preocupe com isso, fique tranquilo que elas vão compensar cada grama desses minerais retirados da água.


Agora, aos que querem que as algas calcárias surjam e encham o aquário de cor e vida, ou aqueles que não estão conseguindo um bom crescimento das suas algas pinks, vamos dar essas dicas importantes:


Dica número 1: As algas pink não gostam de água pouco movimentada, com matéria orgânica ou com sujeira [4], então mantenha uma excelente circulação de água. Mantenha seu aquário marinho com uma circulação mínima de 20 vezes o volume dele.


Dica número 2: Mantenha os níveis de amônia, nitrato e fosfato baixos, muito baixos.


Dica número 3: Dose elementos traços na quantidade correta regularmente. Notamos um ótimo crescimento nas algas pink quando dosamos uma quantidade 50% maior de iodo em relação à quantidade média indicada.


Dica número 4: Mantenha os níveis de cálcio, magnésio e a reserva de carbonatos estável e na quantidade correta. Indicamos manter o magnésio em 1450ppm, o cálcio em 450ppm e a reserva alcalina entre 8,5 e 10 dKH.


Dica número 5: Mantenha a temperatura o mais estável possível não deixando variar mais de 2 graus por dia. Manter uma temperatura constante é muito importante não só para as algas coralíneas, mas também para todos os animais e corais do aquário.



Como todas as plantas as algas pinks não surgem espontaneamente no aquário, é preciso que ela seja introduzida de alguma forma. Você pode pegar uma rocha ou concha que tenha algas pinks para dar início à proliferação no seu aquário ou pode usar água natural ou de um aquário maturado que contenha alguns calcárias para esse início.


É muito importante lembrar que existem centenas de espécies de algas pinks e que cada uma está adequada a uma qualidade de água e iluminação. O melhor é tentar diversificar ao máximo a possibilidade de espécies, principalmente pelo uso de água natural, para aumentar as chances de um bom desenvolvimento.


Não existe tempo certo para as algas calcárias começarem a desenvolver no aquário, depende mais da qualidade da água do que delas mesmo. Já ciclamos aquário com rochas vivas e as algas calcárias começaram a aparecer nos vidros com menos de um mês de montado, mas só porque já colocamos uma fonte de algas pink (as rochas vivas) e a água estava adequada para o crescimento delas. Se você colocou uma fonte de algas pinks e elas estão demorando muito para se desenvolver é porque tem algo de errado com a água.


Se nós da Aquários Sobrinho pudéssemos, deixaríamos crescer alga pink até no substrato! Rsrs


Referências e textos complementares

[1] VILLAS BOAS, Alexandre Bigio  and  FIGUEIREDO, Marcia A. de O.. Are anti-fouling effects in coralline algae species specific?. Braz. j. oceanogr. [online]. 2004, vol.52, n.1 [cited  2017-10-26], pp.11-18. Available from: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-87592004000100002&lng=en&nrm=iso>. ISSN 1982-436X.  http://dx.doi.org/10.1590/S1679-87592004000100002.

[2] Chisholm, John RM. "Primary productivity of reef-building crustose coralline algae." Limnology and Oceanography 48.4 (2003): 1376-1387.

[3] Barott, Katie L., and Forest L. Rohwer. "Unseen players shape benthic competition on coral reefs." Trends in microbiology 20.12 (2012): 621-628.

[4] Belliveau, Stephanie A., and Valerie J. Paul. "Effects of herbivory and nutrients on the early colonization of crustose coralline and fleshy algae." Marine Ecology Progress Series 232 (2002): 105-114.

[5] Bjork, Mats, et al. "Coralline algae, important coral-reef builders threatened by pollution." Ambio 24.7-8 (1995): 502-505.

[6] Freiwald, André. "Coralline algal maerl frameworks-Islands within the phaeophytic kelp belt." Facies 29.1 (1993): 133-148.

[7] Elisabeth M. Gross (2003): Allelopathy of Aquatic Autotrophs, Critical Reviews in Plant Sciences, 22:3-4,313-339

[8] Harrington, Lindsay, et al. "Recognition and selection of settlement substrata determine post‐settlement survival in corals." Ecology85.12 (2004): 3428-3437.

[9] Johnson, Craig R., and Kenneth H. Mann. "The crustose coralline alga, Phymatolithon Foslie, inhibits the overgrowth of seaweeds without relying on herbivores." Journal of Experimental Marine Biology and Ecology 96.2 (1986): 127-146.

[10] Kim, Mi-Jung, et al. "Multiple allelopathic activity of the crustose coralline algaLithophyllum yessoenseagainst settlement and germination of seaweed spores." Journal of Applied Phycology16.3 (2004): 175-179.

[11] Littler, Mark M., Diane S. Littler, and Phillip R. Taylor. "Selective Herbivore Increases Biomass of Its Prey: A Chiton‐Coralline Reef‐Building Association." Ecology 76.5 (1995): 1666-1681.

[12] Johnson, Craig R., David G. Muir, and Anne L. Reysenbach. "Characteristic bacteria associated with surfaces of coralline algae: a hypothesis for bacterial induction of marine invertebrate larvae." Marine Ecology Progress Series (1991): 281-294.

[13] McCoy, Sophie J., and Nicholas A. Kamenos. "Coralline algae (Rhodophyta) in a changing world: integrating ecological, physiological, and geochemical responses to global change." Journal of Phycology 51.1 (2015): 6-24.

[14] Stachowicz, John J., and Mark E. Hay. "Facultative mutualism between an herbivorous crab and a coralline alga: advantages of eating noxious seaweeds." Oecologia 105.3 (1996): 377-387.

[15] Steneck, Robert S. "The ecology of coralline algal crusts: convergent patterns and adaptative strategies." Annual review of ecology and systematics 17.1 (1986): 273-303.

[16] Suzuki, Y., et al. "Iron requirement of the brown macroalgae Laminaria japonica, Undaria pinnatifida (Phaeophyta) and the crustose coralline alga Lithophyllum yessoense (Rhodophyta), and their competition in the northern Japan Sea." Phycologia 34.3 (1995): 201-205.

Fabricius, K., and G. De'Ath. "Environmental factors associated with the spatial distribution of crustose coralline algae on the Great Barrier Reef." Coral Reefs 19.4 (2001): 303-309.

Masaki, T., D. Fujita, and N. T. Hagen. "The surface ultrastructure and epithallium shedding of crustose coralline algae in an ‘Isoyake’area of southwestern Hokkaido, Japan." Hydrobiologia116.1 (1984): 218-223.

Suzuki, Yoshihiro, et al. "Isolation of an allelopathic substance from the crustose coralline algae, Lithophyllum spp., and its effect on the brown alga, Laminaria religiosa Miyabe (Phaeophyta)." Journal of Experimental Marine Biology and Ecology 225.1 (1998): 69-77.

Vermeij, M. J. A., M. L. Dailer, and C. M. Smith. "Crustose coralline algae can suppress macroalgal growth and recruitment on Hawaiian coral reefs." Marine Ecology Progress Series 422 (2011): 1-7.

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